O fenômeno
Resultados de
estudos realizados recentemente na Europa foram divulgados na terça-feira (16)
pela imprensa britânica e o destaque foi a identificação de um fenômeno socioeconômico
específico na zona do euro. Trata-se da elevada taxa de desemprego que atingiu
os jovens da faixa etária dos 20 aos 30 anos. Esses jovens, todos com satisfatório
grau de escolaridade, inclusive adaptados às novas tecnologias e quase todos falando
fluentemente três ou quatro idiomas estão à margem do mercado de trabalho.
Em síntese, são jovens
física e intelectualmente aptos para o trabalho, que não conseguem arranjar
emprego, engrossando a massa de desempregados de países como Itália, Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, elevando o grau de nervosismo das
autoridades financeiras desses países e preocupando outras nações, tais como França,
Inglaterra, Escócia e País de Gales, além dos Estados Unidos onde o chomage ainda não alcançou esse nível.
Os especialistas
estão chamando essa multidão de jovens de “geração desperdiçada” pelo fato de terem
nascido em uma época em que a crise econômica mundial, eclodida em 2008, conseguiu
anular os atributos pessoais, a boa educação recebida e a excelente formação
técnica alcançada pela juventude europeia nascida após 1985.
A origem do mal
Isto resulta do
comportamento das empresas que, desde a eclosão da crise econômica, decidiram
cortar custos de produção com a dispensa, em primeiro lugar, dos trabalhadores mais
jovens e, em seguida, dos temporários, cujo efetivo é formado em sua maioria por
jovens entre 24 e 30 anos, segundo explicação dos especialistas Stefano
Scarpetta, da Organização para Coordenação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e
Richard Jackmman, da London School of Economics and Political Science (LSEPC), ouvidos
pela BBC Brasil.
A jornalista
Ruth Costas, autora da matéria Crise cria
‘geração perdida’ em países ricos, lamenta: “por trás das estatísticas,
há histórias de talentos desperdiçados e expectativas que não se cumpriram –
milhares de jovens que foram levados a acreditar que, se estudassem mais e se preparassem
melhor para o mercado de trabalho, teriam um futuro profissional garantido e
uma posição social confortável”.
As consequências
O empobrecimento
das famílias causado pela séria crise de 2008 é alimentado com o retorno dos
filhos à casa paterna, aumentando as despesas da família que já está sofrendo com as restrições impostas pela recessão – em alguns países é a estagnação econômica – sem
perspectiva de melhorar de vida.
A reportagem já
mencionada destaca os casos da espanhola Sonia Andolz-Rodrigues, que fala seis
idiomas, graduada em Direito e em Ciências Políticas e Relações Internacionais
e com dois mestrados da Universidade de Oxford, não consegue vaga após um ano de
desemprego; de Ava Givian, residente em Londres, formada em Criminologia há sete
meses, e já enviou quase 1.000 currículos, sem resposta, e da jovem Cait Reilly, que,
decepcionada com a sua condição de geóloga desempregada, formada pela
Universidade de Birmingnam, ingressou com uma ação contra o governo inglês porque
foi obrigada a trabalhar arrumando as prateleiras de uma loja de produtos
populares para receber o auxílio- desemprego.
Os jovens
vitimados pelas restrições do mercado de trabalho entregam-se às aflições e, sem
um sinal positivo das autoridades governamentais, entram em crise
emocional. Milhares de adolescentes quedam-se inertes diante da situação, fechando-se
em cápsulas pessoais, outros tantos se revoltam contra o sistema e assumem
atitudes agressivas contra as autoridades e agentes estatais nas ruas e prédios públicos.