terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O BANCO CENTRAL REVELA QUE O MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO EVOLUIU, ACOMPANHANDO DE PERTO O BOM DESEMPENHO DA NOSSA ECONOMIA, MAS DADOS NÃO SÃO CONFIRMADOS PELA MÍDIA

Os resultados do último Relatório de Inflação publicado pelo do Banco Central do Brasil (BC) são reveladores de bom desenvolvimento do mercado de trabalho. Ao comentarem alguns indicadores qualitativos desse negócio, os técnicos do governo demonstram otimismo e confiança no sistema e procuram transmitir a ideia de que o Governo vem fazendo o dever de casa nessa matéria.
Sede do BCB (foto Wikipédia)
Mereceram destaque nesse relatório, na parte “Evolução Recente do Mercado de Trabalho no Brasil: aspectos quantitativos e qualitativos”, os seguintes indicadores de qualidade: evolução do trabalho juvenil, formalização do emprego, nível de instrução dos trabalhadores e carga horária de trabalho e, num segundo plano, apareceu o tempo de procura por colocação no mercado.
Na avaliação desses resultados os especialistas chegaram à conclusão de que a taxa de desemprego recuou bastante – caindo de 12,4% para 6,7%, consideradas as estatísticas de 2003 a 2010 – de acordo com os dados apurados pelo BC. Este fator deve ter sido uma das principais alavancas para a evolução do trabalho juvenil.
Outra causa que, certamente, influiu nesse bom resultado foi “o impacto do aumento da renda familiar sobre a necessidade de indivíduos mais jovens ingressarem no mercado de trabalho” – destaco do relatório do BC. É assim que funciona: menos gente buscando trabalho significa, em termos econômicos, menos desemprego.
No que tange à formalização do emprego (trabalho com carteira profissional anotada) o BC apurou que esse quadro melhorou significativamente, sendo certo que o contingente de trabalhadores do setor privado que em 2003 representava 44,3% do total da mão de obra empregada, subiu para 51% em 2010, gerando um outro bom resultado: alcançamos o total de 68,4% de contribuintes do INSS. Em 2003 o número de filiados à Previdência Social era 61,2%.
Outro índice ressaltado nesse estudo, o nível de instrução formal dos trabalhadores, também registrou aumento expressivo nos últimos 10 anos. Os especialistas do BC apuraram que, nesse período, o percentual de trabalhadores com menos de oito anos de estudo recuou de 34,1% da População Economicamente Ativa (PEA) para 23,2%, enquanto o efetivo com onze ou mais anos de estudo subiu de 45,8% para 59,1%. É realmente uma performance digna de um BRIC.
Finalmente, diz o BC, também houve evolução do indicador quantidade de horas trabalhadas. Ficamos sabendo que em 2010 apenas 29,1% dos trabalhadores ocupados laboraram em carga horária superior a 44 horas semanais (em 2003 esse total, pelas contas do BC, era de 35,4%). Os estudos mostram ainda que caiu o número de trabalhadores submetidos à semanada de trabalho superior a 49 horas ou mais de trabalho. Duas conclusões podem ser extraídas desse resultado: a de que os empreendedores estão criando vagas para ocupação por novos trabalhadores em vez de aumentarem a carga horária dos seus empregados e as horas extraordinárias estão deixando de ser um sobressalário atraente para os operários.
(Foto Google)
Curiosamente, o jornal Valor Econômico divulgou, em meados do mês passado, matéria de Adriana Fonseca, dando conta de que seis em cada dez trabalhadores brasileiros laboram mais de 9 horas por dia. Esse resultado é atribuído à pesquisa realizada pela Regus Group em 85 países, com o universo de 12.000 trabalhadores. Essa divergência, de conclusões, contudo, pode ser explicada pelos objetivos e tamanho dos universos usados nas pesquisas realizadas pelo BC (apenas no Brasil) e a Regus (investigados e comparados nossos dados com os de outros países).
Relatei que a divergência “pode ser explicada”, o que significa que não estou certo de que ela advém exatamente desses fatos. Seriam necessários estudos mais específicos a esse respeito para que se pudesse avaliar melhor as divergências ora apontadas. Este, porém, não é o momento nem o local oportuno para isso.
E constato haver mais conflito nas conclusões do relatório do BC. A Gazeta do Povo, do Paraná, divulgou ontem (12), artigo assinado pelo jornalista Fernando Jasper, no qual ele admite o avanço na criação de vagas no mercado de trabalho brasileiro desde 2000, mas conclui – baseado em dados do CAGED – que a disseminação das vagas ocorreu numa configuração desigual em termos de salário, porque os novos postos de trabalho se concentraram em empregos de baixa remuneração “que pagam no máximo dois salários mínimos mensais – o equivalente, hoje, a R$ 1.090. Para quem pensa em ingressar numa empresa ganhando mais que isso, o mercado encolheu” – diz o jornalista a quem me referi. E fala mais: “que em postos mais bem remunerados, as demissões superaram as contratações”.
Como se pode depreender houve crescimento no número de empregados sim, porém apenas em um segmento do mercado de trabalho (o de mais baixa remuneração e, certamente, o menos qualificado para as necessidades atuais do País). Se isso não chega a comprometer os resultados apresentados pelo BC como mais um sucesso da política do Governo, as contradições servem para esfriar o otimismo que o relatório oficial procura passar aos brasileiros.

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