quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Para o governo a criação de empregos no país sinaliza recuperação desse cenário da economia, mas especialistas e entidades de classe acham cedo para comemoração

Atualizado e ampliado em 24.8.2012, às 5:54h

No que diz respeito ao comportamento do emprego formal, o mercado de trabalho parece recuperado do susto do final do ano passado, ou seja, o pesadelo do mês de dezembro de 2011, considerados os últimos resultados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).

Os índices revelam que em julho foram criados 142.496 empregos, após uma taxa aceitável em abril (216.974), apenas sofrível em maio (139.679) e baixa em junho (120.440), sinalizando, não obstante, uma tendência de recuperação desse fator da economia para os técnicos do governo.



Os setores  que geraram mais empregos nesse período foram os de serviços,  construção civil, indústria de transformação e agropecuária.

A esse respeito O Estado de São Paulo ouviu diversos especialistas durante o seminário "Competitividade – o calcanhar de Aquiles do Brasil", realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (Fecomercio-SP) na última segunda-feira (20), que confirmaram essa tendência, apesar de apontarem alguns componentes econômicos que os preocupam.

José Pastore (Fecomercio-SP), Walter Barelli (Unicamp), Clemente Ganz (Dieese) e Mário Bernardini (Fiesp) admitem que os dados do CAGED demonstram que estamos melhorando essa taxa, embora assinalem alguns problemas como “a redução na capacidade de investimento da indústria” (Pastore) e que ainda é cedo para comemorarmos, porque “no primeiro semestre há um ingresso grande de recém-formados no mercado de trabalho” (Barelli); e, ainda, que, se criarmos “até 1,5 milhão de empregos em 2012 seria um resultado muito bom, diante do PIB do Brasil entre 1,5% e 2%” (Clemente). O mais otimista é Bernardini, para quem o “Brasil, do ponto de vista do emprego, não precisa crescer mais de 2,5% ao ano”.

blogger acrescentaria outro motivo para essa inquietação: o fato de a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ter revelado anteontem (21) que o setor não apresentou resultados aceitáveis no início do segundo semestre do ano, repetindo o do primeiro semestre. Segundo a entidade, mesmo com a produção fraca de julho os estoques nas plantas persistiram aumentando – conforme notícia da Agência Brasil de ontem. Há, portanto, outro problema além da produção.

Essa performance é decepcionante, diante das declarações da equipe econômica do governo, capitaneada pelo ministro Guido Mantega. Eu arriscaria dizer que os incentivos dados ao setor industrial no semestre passado justificariam um desempenho melhor do setor e isso me leva a concluir que, sem a definitiva redução do “Custo Brasil” – aí incluída a flexibilização da legislação trabalhista e previdenciária – os resultados desse e de outros segmentos serão medíocres.

Luís Guilherme Barrucho, articulista da BBC Brasil, fez excelente síntese  do que chamou "os cinco vilões do crescimento do Brasil", no sítio www.bbc.co.uk/portuguese, identificando e apontando as consequências de cada um desses vilões: infraestrutura precária, déficit de mão de obra, sistema tributário complexo, baixa capacidade de investimento público e privado e burocracia excessiva. No item sistema tributário, ele apoia-se em dados de relatório do Banco Mundial para mostrar que no Brasil as empresas de médio-porte despendem 2.600 horas de sua capacidade produtiva anual para pagar impostos, enquanto na China são 398 horas e na Índia 254, além de destacar o pagamento de "imposto em cascata" na cadeia produtiva.

Muitos líderes do setor industrial devem ter concluído ser esta a melhor hora de atacarem o que eles consideram sério entrave no processo produtivo nacional, o Custo Brasil. Antevejo que, sem alteração da legislação trabalhista e previdenciária, os resultados que o governo espera alcançar com as medidas pontuais implantadas nos últimos dez meses serão insignificantes. É esperar para ver...

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